domingo, 9 de janeiro de 2011

Sítio Alto: o retrato da miséria em Simão Dias

Publicada: 09/01/2011
Texto: Dayze Lima

Depois de percorrido seis quilômetros, partindo de Simão Dias, o ponto de chegada é o povoado Sítio Alto. Localizado em cima de uma montanha, o que justifica o nome, a entrada não é muito convidativa. As casas antigas, a maioria de taipa e algumas de lona, a falta de água encanada e de saneamento básico denotam a vida sofrida das famílias que ali residem. Para completar o cenário de miséria, boa parte da comunidade não possui uma renda fixa. Trabalham pesado na lavoura para conseguir no final do mês uma quantia de R$ 300, e com esse valor sustentar, geralmente, de oito a dez pessoas.

É o que acontece com o agricultor Gilson dos Santos, de 52 anos. Nascido e criado em Simão Dias, o viúvo e seus três filhos acordam cedo para garantir o ‘pão de cada dia’. “Não temos outra fonte de emprego. Trabalhamos na roça plantando maniva, feijão, milho, e essa é a nossa unida renda”, lamenta seu Gilson.

O pai de família relata não ter dinheiro nem para comprar adubo. “Não tem como. O que ganho mal dá para comer. Não podemos tirar da comida para comprar. Não temos renda para isso. Às vezes tiramos R$ 10, R$ 20, quase nada para uma família. Por isso, plantamos como podemos”, expõe.

Sem opção de trabalho, os filhos de seu Gilson são obrigados a também lidarem com a labuta. “Ficar em casa é que não pode. É o único trabalho que eles têm também. Pelo menos no final do mês garantem um dinheirinho. Me ajudam e eu dou uma coisinha para eles”, conta o pai.

Rony Santos, um dos filhos de seu Gilson, precisou abandonar os estudos para ajudar o pai.

“Parei na 6ª série para trabalhar e ter como me manter, porque não podemos ficar sem dinheiro, pedindo o tempo todo. Pelo menos para nossos gastos pequenos, temos que ter. O dinheiro que arrecadamos é pra toda a família. Então, por que não trabalhar?”, questiona o rapaz.

Hoje com 21 anos, ele afirma que um de seus maiores sonhos é poder voltar aos estudos. “Quero muito dar uma vida melhor a minha família. Tenho essa vontade e sei que vou conseguir. Mas enquanto não tiver condições e um trabalho melhor, vou permanecer sem estudo”, diz.

Sem Água

Água encanada é outro direito ceifado as famílias que residem no Sítio Alto. Para consumirem o bem precioso, a comunidade tem que se deslocar até um poço. Ainda assim, eles garantem que a situação já foi pior. “Antes nem o poço tínhamos. Íamos até um lugar chamado Serra. Dá uns 20 quilômetros daqui. Quando chegávamos lá, esperávamos a água minar para encher os potes”, relembra Gilson dos Santos.

O agricultor recorda que saía de casa cedo. “Levantava às 4 horas e só retornava às 7 horas. Levava dois barris, todos os dias. Essa era a água que tínhamos. Hoje, com o poço novo, melhorou um pouquinho. Pelo menos a água é boa para consumo e para os afazeres. Pior é o outro que temos aqui. A água é tão salgada que não dá para beber. É um sofrimento muito grande”, critica.

Outra moradora, Maria de Jesus Santos também fala do desconforto de ir buscar água diariamente. “É difícil não ter água encanada. Eu mesmo não tenho idade para fazer esse percurso todos os dias. Sofremos muito com isso. É complicado. Têm muitas pessoas idosas aqui que são obrigadas a fazerem esse sacrifício. Se a prefeitura nos der pelo menos a água encanada, já melhoraria”, clama a senhora.

Abandono

Não bastasse ter que enfrentar problemas como a falta de água encanada e de trabalho para sobreviver, a população ainda é obrigada a se deparar com outros tipos de abandono. “Não temos nada. Falta esgotamento sanitário, saneamento básico. Vivemos abandonados. As coisas aqui andam devagar, quase parando”, critica seu Gilson.

Para ele, a população de Sítio Alto só é reconhecida em época de eleição. “Quando chega esse
período aparece um monte de gente para pedir voto. Depois que passa, nos esquecem. É como se não existíssemos. Não lembro o dia que vi alguém da prefeitura aqui”, desabafa o agricultor.

Dona Maria de Jesus concorda com o vizinho e faz um apelo. “Precisamos de condições melhores para sobreviver. Moramos muito distante da cidade e as ladeiras são muito altas. Se pudessem nos ajudar até nisso contribuiria para melhorar nossas vidas. Eles precisam nos enxergar antes e depois das eleições”, sugere.

Alguns moradores reclamam ainda da falta de merenda nas escolas do povoado. Segundo Maria, mãe de quatro filhos pequenos, é preciso fazer muitos sacrifícios para garantir o lanche das crianças. “Muita gente reclama da falta de alimentação nas escolas. Como é que os alunos vão se concentrar sem alimento? Meus filhos estudam, mas reclamam direto. Quando isso acontece me esforço mais e dou uma merendinha a eles. Graças a Deus sempre tenho o que dar para os quatro”, relata.

Sem moradia

Dona Maria ainda sofre com outro problema. A falta de um lugar digno para viver. Sem ter uma casa, construiu no quintal da residência seu filho mais velho um barraco de lona. “Vivemos como podemos. Temos o que comer, o que beber e isso é o que importa. Vamos seguindo. Não tenho como levantar nada agora. Nem de madeira e nem de taipa. Vamos viver aí até quando Deus quiser”, expõe a mãe.

De cabeça baixa, dona Maria detalha como faz para abrigar os membros da família e para fazer as tarefas diárias. “Os meninos dormem na rede e eu durmo na esteira. Para cozinhar acendo o fogo do lado de fora. Lá dentro, ainda tem espaço para guardar alguns potes com água e minhas panelas”, conta.

Para sustentar a casa, a mãe, assim como os demais moradores de Sítio Alto, trabalha na lavoura. “Meu dinheiro depende da roça. Às vezes faço uma renda boa. Este ano não trabalhei na safra ainda. O que alivia é o Bolsa Família. Com o que ganho no emprego dá para completar”, ressalta.

Mais sofrimento

Há alguns metros da casa de dona Maria está a residência de seu filho mais velho, Sandro Francisco Santos. Lá, o sofrimento é diminuído por ser uma casa de taipa e o número de membros na família ser reduzido. Moram apenas ele, a mulher Marcela de Jesus Santos e o filho de seis meses. “Minha avó se mudou e deixou a casa para mim. Antes morávamos com ela. Não temos condições de construir uma melhor. Temos que nos contentar com o presente”, afirma o jovem.

Sua condição salarial não difere do restante da comunidade. Sem ter um emprego digno, Sandro sustenta a família com a labuta diária. “Trabalho em um assentamento próximo daqui. O dinheiro depende da colheita. Quando tem feijão, trabalhamos com ele, quanto não tem, plantamos milho e assim por diante”, explica.

Quando o período de safra rende bons resultados, ele conta que o salário chega a ser bom. “Às vezes consigo tirar R$ 30, R$ 40 por dia. Agora não está bom, aí tiro menos. Recebo todas as sextas-feiras, mas não posso dizer que temos uma vida boa. É instável. Dependemos da plantação”, acrescenta.

“Ao entrar no período de entressafra complica mais ainda, porque quando plantamos nossa própria roça, temos alguma coisa, e quando não dá para plantar, rezamos para ter trabalho ou para poder plantar na roça dos amigos”, completa.

Com um largo sorriso no rosto, Sandro conta que o alimento de seu filho hoje é garantido. “A mamadeira dele, graças a Deus, temos para dar. Já passamos por muita dificuldade. Hoje as coisas estão um pouco melhores. Não que ainda não passamos, mas vamos nos virando”, relata.

Respostas

De acordo com o secretário de Ação Social de Simão Dias, Marcos Antônio Oliveira, alguns projetos são desenvolvidos em benefício à população do povoado Sítio Alto. “A maioria das famílias é beneficiada com o programa Bolsa Família. Tem projeto envolvendo a parte social, como os cursos de bordados, entre outros, levados a comunidade através do CRAS (Centro de Referência de Assistência Social). Estamos sempre pensando no melhor para o povoado Sítio Alto”, assegura o secretário.

Marcos Antônio informa que outra ação do governo do Estado está prestes a ser implantada. “É o projeto para a demolição das casas de taipa e da construção de casas em alvenaria. Estamos fazendo o possível para que seja colocado em prática logo. Caso demore, a prefeitura vai disponibilizar o material para amenizar pelos menos a situação das famílias que moram em casas de lona. Conversamos com o líder comunitário do povoado e ele confirmou que, se o material for entregue, a população ajudará na construção”, garante.

Segundo o secretário, apesar da prefeitura não possuir um projeto abrangendo todos os povoados com a utilização de recursos próprios, alguns esforços têm sido feitos. “Tive uma reunião com o prefeito Dênisson Déda e um dos temas abordados foi o Sítio Alto. Estamos buscando a implantação de uma unidade do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) na comunidade e iremos fazer um levantamento para ver o local mais propício”, afirma.

“O prefeito fez uma visita ao povoado, acompanhado do secretário de Obras. Posso garantir que existem projetos para o Sítio Alto. Lá é uma das prioridades da gestão. Até porque é visível a necessidade de se ajudar a comunidade. Não que os outros povoados não precisem, mas lá detectamos uma precisão maior”, justifica Marcos Antônio.
Nenhum comentário encontrado.
Seja o primeiro(a) a comentar. Clique aqui para comentar

Fonte: Jornal da Cidade
Cidadania se faz aqui.
Postado por Júnior de Edna Valadares em 09/01/2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário