Publicada: 09/01/2011
Texto: Carla Sousa
Moradores do bairro Atalaia estão tendo que enfrentar uma verdadeira batalha para tirar das portas de suas casas os pontos de prostituição e vendas de drogas que foram se firmando principalmente ao longo da Rua Cel. José Figueiredo Albuquerque. Cada esquina foi loteada pelos diferentes grupos que atuam na área, formados por travestis, prostitutas e traficantes. Quando cai a noite, os moradores dessa área nobre da cidade ficam praticamente reféns em suas próprias residências.
Um morador que não quis se identificar para evitar represálias, conta que há um ano e meio a porta de sua casa virou ponto certo de um grupo de travestis. Desde então, ele não teve mais sossego. Ele relata que já acionou várias vezes o serviço do Ciosp 190 por conta principalmente dos constrangimentos que esses ‘profissionais’ já fizeram ele e seus familiares passarem. “Eles chegam a ficar seminus, fazem muito barulho, às vezes ocorrem brigas e durante toda a noite todos nós vemos o movimento dos cliente que os tratam como mercadorias na porta de casa nos constrangendo”, afirma o morador que é funcionário público e reside no local há mais de 11 anos.
Ele conta que já tentou algumas medidas paliativas para expulsar o grupo do local como colocar óleo queimado na calçada e um holofote apontado para eles. Todas as suas tentativas foram infrutíferas. Até mesmo quando recorreu aos órgãos oficiais que tratam da segurança pública do Estado não obteve sucesso. Já foram mais de dez ocorrências registradas na delegacia e no Ciosp, a primeira data de 11 de janeiro de 2011, há quase um ano atrás. “Ás vezes atendem ao chamado às vezes não. E quando vem geralmente passam direto sem nem parar para averiguar o que foi relatado. Infelizmente a gente recorre ao meio legal, mas nunca é atendido”, afirma.
O funcionário público relata que já tentou até dialogar com os travestis pedindo de forma amigável para que se retirassem da sua porta. Mas a resposta que recebeu foi de que “a rua é pública e que eles tinham o direito de permanecer ali”. Ele afirma que além de registrar as ocorrências já procurou a Delegacia de Turismo, o Batalhão de Polícia localizado na orla, o Ministério Público Estadual e mais recentemente a Coordenadoria das Delegacias.
Ele ressalta que está disposto a ir longe com esta briga reunindo moradores para realizar um abaixo-assinado. Uma sugestão defendida por ele e por outros moradores da região é a criação de um local onde esse pessoal – travestis e prostitutas – pudessem atuar sem que incomodasse os cidadãos de bem nas portas de suas casas. “O poder público deveria tentar uma maneira legal para resolver esse problema. Para mim a delimitação de um local afastado das residências sob supervisão dos órgãos competentes seria o ideal”. Um outro morador, que também preferiu não se identificar, batizou a ideia de “putódromo”.
O problema mais grave, de acordo com este segundo morador, é que na maioria das esquinas é o tráfico de drogas que está tomando conta. “Muitas deixaram até de se prostituir para vender drogas”. Este grupo relata o morador, já não atua mais só ao cair da noite. “Eles estão aqui de manha de tarde e de noite. Os moradores da rua já chegaram a derrubar praticamente todas as árvores da porta de suas casas pra não fazer sombra durante o dia, porque se tiver sombra vai ter um grupinho ali vendendo drogas ou se prostituindo”, afirma.
Mas, apesar de aturem ao longo do dia, o problema se agrava mesmo ao cair da noite. “Às 18h é toque de recolher e ninguém sai mais de casa”. Ele conta que a calçada de sua casa fica cheia de prostitutas e marginais que chegam a estender colchões e passam toda a noite no local. “O barulho é demais e ninguém consegue dormir”. Segundo o morador, ele e seus familiares estão impedidos até de chegar à varanda de casa à noite. “Certa vez quando eu cheguei de mansinho na balaustrada um motoqueiro de capacete, que deve ser o distribuidor da droga, me ameaçou mostrando uma arma enorme na cintura” relata o senhor assustado. “Estamos aqui à mercê dos bandidos”, completa.
Este morador conta que já chegou a relatar o problema pessoalmente ao secretário de Segurança Pública e a outras autoridades policiais, mas segundo ele falta vontade para resolver a questão. “Infelizmente acho muito difícil que alguma coisa aconteça. Eles não querem resolver o problema”. Ele disse que está disposto até a disponibilizar sua casa, que possui uma visão estratégica para um dos pontos mais problemáticos da Atalaia, para que a polícia monte guarda e possa efetuar os flagrantes.
Ação
O comandante de Policiamento da Capital, o coronel Maurício Iunes, que também é morador do bairro Atalaia, disse que está disposto a se reunir com os moradores da localidade para que seja traçado um plano de ação. No entanto, segundo ele, em algumas situações a polícia está limitada a agir. “Se uma pessoa está numa esquina em pé, nós não podemos fazer nada. Não há nenhum crime nisso. A pessoa tem liberdade de ficar em pé numa esquina. Mas, se essa pessoa estiver despida, aí sim, nós podemos conduzi-la até a delegacia porque ela estará cometendo crime de atentado ao pudor. Mas se estiver vestida normal, pouco podemos fazer”, explica.
Em relação à proposta dos moradores de criação de um “putódromo” para a atuação dos travestis e prostitutas ele disse discordar. “O Estado não pode estimular a pratica de uma atividade que é considerada ilegal”. Segundo ele, o grande problema da região é mesmo o tráfico de drogas “e para isso nós temos que montar uma ação de repressão muito forte”, destaca.
Mas, de acordo com o coronel Iunes, o problema vivido pelos moradores da Atalaia não vai ser resolvido apenas com ação policial. “Essa é uma questão mais de cunho social do que de polícia. Não adiante a gente atuar numa localidade sem apoio de outros órgãos, o que pode acontecer é o problema migrar para outro local”, ressalta.
“Pelada não, quase pelada!”
Nicole Furacão, 19 anos, tem quase dois metros de altura e chama a atenção de quem passa pela esquina das ruas Dr. Fernando Sampaio com José Figueiredo Albuquerque. Há um ano e meio a travesti faz ponto no local e já é conhecida por conta das roupas um tanto ousadas que usa. “Gosto de usar fantasias compradas em sex shop. Tenho de enfermeira, diabinha, coelhinha”. São essas minúsculas fantasias que deixam o corpão moreno de Nicole totalmente a mostra para atrair os clientes, mas ela nega que fica despida. “É quase pelada, não é pelada”.
Além disso, ela afirma que só veste suas fantasias tarde da noite. “Faço isso só depois de meia noite ou uma hora”, afirma.
Ela confessa que a sua presença e a de suas colegas no local incomoda aos moradores e diz que o relacionamento com eles é “péssimo”. Mas explica que a Rua José Figueiredo Albuquerque é uma das mais movimentadas do bairro e por isso, apesar dos conflitos, não pensa em deixar o local. Segundo Nicole, se fosse para deixar o ponto para ir para um lugar melhor onde pudesse trabalhar de forma mais sossegada até que toparia. “Seria melhor porque ninguém ficaria incomodado nem sairia prejudicado”.
A jovem travesti conhecida como Pérola, faz ponto em uma outra esquina da rua José Figueiredo Albuquerque, e para ela também seria bom poder ter um outro espaço onde pudesse trabalhar. “Por aqui tem muita venda de droga e isso não é bom para a gente”, afirma. Ela veio de Maceió para fazer programa em Aracaju, onde reside há seis meses, e diz que está gostando da cidade porque a violência ainda não é tão grande. Quando questionada se também gostava de ficar seminua em seu local de trabalho ela afirmou que não. “Tem muitas câmeras por aqui nas casas,
prefiro não me expor tanto”, declara.
No entanto, a opinião de Nicole Furacão e de Pérola sobre um novo local de trabalho para elas, como querem os moradores da Atalaia, não agradou a todas do grupo de travestis. “Não seria bom porque o local aqui já é visado. Os clientes já sabem qual a esquina que podem encontrar a gente, por isso seria ruim se a gente tivesse que sair daqui”, explica Fernanda que já faz ponto no mesmo espaço há quase dois anos.
Fernanda conta que diferente de Nicole Furacão, não gosta de ficar exibindo o seu corpo. “Nem tenho esse corpão para ficar mostrando”. Além disso, ela acredita que um dos motivos de conflito com os moradores que querem a saída delas do local é exatamente o fato de colegas suas ficarem seminuas na rua. “Eu tiro por mim, porque se tivesse uma louca na porá da minha casa nua eu também não iria gostar”, afirma.
Moradores do bairro Atalaia estão tendo que enfrentar uma verdadeira batalha para tirar das portas de suas casas os pontos de prostituição e vendas de drogas que foram se firmando principalmente ao longo da Rua Cel. José Figueiredo Albuquerque. Cada esquina foi loteada pelos diferentes grupos que atuam na área, formados por travestis, prostitutas e traficantes. Quando cai a noite, os moradores dessa área nobre da cidade ficam praticamente reféns em suas próprias residências.
Um morador que não quis se identificar para evitar represálias, conta que há um ano e meio a porta de sua casa virou ponto certo de um grupo de travestis. Desde então, ele não teve mais sossego. Ele relata que já acionou várias vezes o serviço do Ciosp 190 por conta principalmente dos constrangimentos que esses ‘profissionais’ já fizeram ele e seus familiares passarem. “Eles chegam a ficar seminus, fazem muito barulho, às vezes ocorrem brigas e durante toda a noite todos nós vemos o movimento dos cliente que os tratam como mercadorias na porta de casa nos constrangendo”, afirma o morador que é funcionário público e reside no local há mais de 11 anos.
Ele conta que já tentou algumas medidas paliativas para expulsar o grupo do local como colocar óleo queimado na calçada e um holofote apontado para eles. Todas as suas tentativas foram infrutíferas. Até mesmo quando recorreu aos órgãos oficiais que tratam da segurança pública do Estado não obteve sucesso. Já foram mais de dez ocorrências registradas na delegacia e no Ciosp, a primeira data de 11 de janeiro de 2011, há quase um ano atrás. “Ás vezes atendem ao chamado às vezes não. E quando vem geralmente passam direto sem nem parar para averiguar o que foi relatado. Infelizmente a gente recorre ao meio legal, mas nunca é atendido”, afirma.
O funcionário público relata que já tentou até dialogar com os travestis pedindo de forma amigável para que se retirassem da sua porta. Mas a resposta que recebeu foi de que “a rua é pública e que eles tinham o direito de permanecer ali”. Ele afirma que além de registrar as ocorrências já procurou a Delegacia de Turismo, o Batalhão de Polícia localizado na orla, o Ministério Público Estadual e mais recentemente a Coordenadoria das Delegacias.
Ele ressalta que está disposto a ir longe com esta briga reunindo moradores para realizar um abaixo-assinado. Uma sugestão defendida por ele e por outros moradores da região é a criação de um local onde esse pessoal – travestis e prostitutas – pudessem atuar sem que incomodasse os cidadãos de bem nas portas de suas casas. “O poder público deveria tentar uma maneira legal para resolver esse problema. Para mim a delimitação de um local afastado das residências sob supervisão dos órgãos competentes seria o ideal”. Um outro morador, que também preferiu não se identificar, batizou a ideia de “putódromo”.
O problema mais grave, de acordo com este segundo morador, é que na maioria das esquinas é o tráfico de drogas que está tomando conta. “Muitas deixaram até de se prostituir para vender drogas”. Este grupo relata o morador, já não atua mais só ao cair da noite. “Eles estão aqui de manha de tarde e de noite. Os moradores da rua já chegaram a derrubar praticamente todas as árvores da porta de suas casas pra não fazer sombra durante o dia, porque se tiver sombra vai ter um grupinho ali vendendo drogas ou se prostituindo”, afirma.
Mas, apesar de aturem ao longo do dia, o problema se agrava mesmo ao cair da noite. “Às 18h é toque de recolher e ninguém sai mais de casa”. Ele conta que a calçada de sua casa fica cheia de prostitutas e marginais que chegam a estender colchões e passam toda a noite no local. “O barulho é demais e ninguém consegue dormir”. Segundo o morador, ele e seus familiares estão impedidos até de chegar à varanda de casa à noite. “Certa vez quando eu cheguei de mansinho na balaustrada um motoqueiro de capacete, que deve ser o distribuidor da droga, me ameaçou mostrando uma arma enorme na cintura” relata o senhor assustado. “Estamos aqui à mercê dos bandidos”, completa.
Este morador conta que já chegou a relatar o problema pessoalmente ao secretário de Segurança Pública e a outras autoridades policiais, mas segundo ele falta vontade para resolver a questão. “Infelizmente acho muito difícil que alguma coisa aconteça. Eles não querem resolver o problema”. Ele disse que está disposto até a disponibilizar sua casa, que possui uma visão estratégica para um dos pontos mais problemáticos da Atalaia, para que a polícia monte guarda e possa efetuar os flagrantes.
Ação
O comandante de Policiamento da Capital, o coronel Maurício Iunes, que também é morador do bairro Atalaia, disse que está disposto a se reunir com os moradores da localidade para que seja traçado um plano de ação. No entanto, segundo ele, em algumas situações a polícia está limitada a agir. “Se uma pessoa está numa esquina em pé, nós não podemos fazer nada. Não há nenhum crime nisso. A pessoa tem liberdade de ficar em pé numa esquina. Mas, se essa pessoa estiver despida, aí sim, nós podemos conduzi-la até a delegacia porque ela estará cometendo crime de atentado ao pudor. Mas se estiver vestida normal, pouco podemos fazer”, explica.
Em relação à proposta dos moradores de criação de um “putódromo” para a atuação dos travestis e prostitutas ele disse discordar. “O Estado não pode estimular a pratica de uma atividade que é considerada ilegal”. Segundo ele, o grande problema da região é mesmo o tráfico de drogas “e para isso nós temos que montar uma ação de repressão muito forte”, destaca.
Mas, de acordo com o coronel Iunes, o problema vivido pelos moradores da Atalaia não vai ser resolvido apenas com ação policial. “Essa é uma questão mais de cunho social do que de polícia. Não adiante a gente atuar numa localidade sem apoio de outros órgãos, o que pode acontecer é o problema migrar para outro local”, ressalta.
“Pelada não, quase pelada!”
Nicole Furacão, 19 anos, tem quase dois metros de altura e chama a atenção de quem passa pela esquina das ruas Dr. Fernando Sampaio com José Figueiredo Albuquerque. Há um ano e meio a travesti faz ponto no local e já é conhecida por conta das roupas um tanto ousadas que usa. “Gosto de usar fantasias compradas em sex shop. Tenho de enfermeira, diabinha, coelhinha”. São essas minúsculas fantasias que deixam o corpão moreno de Nicole totalmente a mostra para atrair os clientes, mas ela nega que fica despida. “É quase pelada, não é pelada”.
Além disso, ela afirma que só veste suas fantasias tarde da noite. “Faço isso só depois de meia noite ou uma hora”, afirma.
Ela confessa que a sua presença e a de suas colegas no local incomoda aos moradores e diz que o relacionamento com eles é “péssimo”. Mas explica que a Rua José Figueiredo Albuquerque é uma das mais movimentadas do bairro e por isso, apesar dos conflitos, não pensa em deixar o local. Segundo Nicole, se fosse para deixar o ponto para ir para um lugar melhor onde pudesse trabalhar de forma mais sossegada até que toparia. “Seria melhor porque ninguém ficaria incomodado nem sairia prejudicado”.
A jovem travesti conhecida como Pérola, faz ponto em uma outra esquina da rua José Figueiredo Albuquerque, e para ela também seria bom poder ter um outro espaço onde pudesse trabalhar. “Por aqui tem muita venda de droga e isso não é bom para a gente”, afirma. Ela veio de Maceió para fazer programa em Aracaju, onde reside há seis meses, e diz que está gostando da cidade porque a violência ainda não é tão grande. Quando questionada se também gostava de ficar seminua em seu local de trabalho ela afirmou que não. “Tem muitas câmeras por aqui nas casas,
prefiro não me expor tanto”, declara.
No entanto, a opinião de Nicole Furacão e de Pérola sobre um novo local de trabalho para elas, como querem os moradores da Atalaia, não agradou a todas do grupo de travestis. “Não seria bom porque o local aqui já é visado. Os clientes já sabem qual a esquina que podem encontrar a gente, por isso seria ruim se a gente tivesse que sair daqui”, explica Fernanda que já faz ponto no mesmo espaço há quase dois anos.
Fernanda conta que diferente de Nicole Furacão, não gosta de ficar exibindo o seu corpo. “Nem tenho esse corpão para ficar mostrando”. Além disso, ela acredita que um dos motivos de conflito com os moradores que querem a saída delas do local é exatamente o fato de colegas suas ficarem seminuas na rua. “Eu tiro por mim, porque se tivesse uma louca na porá da minha casa nua eu também não iria gostar”, afirma.
Fonte: Jornal da Cidade
Cidadania se faz aqui.
Postado por Júnior de Edna Valadares em 10/01/2011
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